A
teoria analítico-comportamental do desenvolvimento é enquadrada no campo da
ciência natural (Bijou, 1993/1995). Bijou e Baer (1961) definem teoria como um
grupo coerente de proposições gerais (i.e., definição de termos e princípios de
relação entre termos) usadas como formulações explicativas para uma classe de
fenômenos. Já a ciência natural é entendida como aquela que estuda qualquer
fenômeno natural, derivando seu conhecimento de eventos observáveis ao olho nu
ou observáveis por meio de instrumentos. A proposta da AC para a compreensão do
desenvolvimento se enquadra nos padrões das ciências naturais porque as
afirmações teóricas são proposições generalizadas sobre interações observáveis
entre organismo e ambiente (Bijou, 1993/1995; Schlinger, 1995; Novak, &
Peláez, 2004).
Em
consonância com as ciências naturais, Bijou e Baer (1961) definiram o
desenvolvimento como mudanças progressivas na interação entre um organismo e
seu ambiente. Se destrincharmos os elementos presentes nessa definição, tem-se
o destaque para dois aspectos:
a. Mudanças
progressivas. Segundo Ruiz e Baer (1996), o aspecto progressivo
teria dois sentidos. O primeiro deles se refere à descrição sucessiva das
diferenças qualitativas nas interações organismo-ambiente, de forma que o único
papel da palavra “progressivo” seja permitir o reconhecimento de que cada
mudança no comportamento se leva a cabo com base nas interações
organismo-ambiente que a precedem. No segundo sentido, destaca-se que não
apenas as interações que precederam de modo imediato qualquer mudanças no
comportamento são importantes, mas também se considera quaisquer outras variáveis
históricas que possam ser relevantes. Essa definição de desenvolvimento
permite, portanto, contemplar as mudanças comportamentais como baseadas no que
já ocorreu e no que ocorre no momento da interação específica (Novak &
Peláez, 2004). Destaca-se também que o caráter progressivo não resulta em uma
noção de melhoria, progresso ou direção única do desenvolvimento (Vasconcelos,
Naves, & Ávila, 2010).
b. Mudanças
na interação entre o organismo e seu ambiente. Essas
interações são consideradas interdependentes e contínuas. Aquilo que o
organismo faz altera aspectos do ambiente e este, por sua vez, retroage sobre
as ações do organismo (Vasconcelos, Naves, & Ávila, 2010). Portanto, o
desenvolvimento implica bidirecionalidade de controle entre organismo e
ambiente.
De
forma semelhante, Ribes (1996) sugere que o estudo do desenvolvimento consiste na
reconstrução teórica do comportamento ao longo do tempo, permitindo a
observação de uma tendência geral na mudança e organização comportamental em
cada momento. Na medida em que marca a história de interações do indivíduo, o
estudo do desenvolvimento permite elucidar fatores disposicionais. Ou seja, trata-se
de esclarecer a facilidade ou interferência criada pela história em novas
formas de organização do comportamento e na aquisição de determinadas
competências. Nesse sentido e em consonância com a definição de Bijou e Baer
(1961), Ribes (1996) concebe o desenvolvimento como a interação histórica das
capacidades comportamentais no transcurso do tempo: as competências
comportamentais adquiridas progressivamente se convertem na condição necessária
para o desenvolvimento de novas competências comportamentais.
Em
suma, o aspecto crítico no estudo do desenvolvimento é o caráter progressivo
das mudanças nas interações, de forma que a história pregressa interfira
probabilisticamente em aspectos qualitativos e quantitativos das interações
presentes e as interações presentes interfiram nas futuras. Por se referir a
fatores apenas disposicionais, a análise diacrônica não retira a necessidade de
uma análise sincrônica, cujo papel é determinar aquelas condições e processos
presentes no momento em que a interação acontece.
Referências:
Bijou, S. W. (1995). Behavior Analysis of Child Development. Reno: Context Press. Segunda revisão. Versão original em 1993.
Bijou, S. W.; & Baer,
D. M. (1961). Child development, 1: A systematic and
empirical theory. The Century psychology series. New York:
Appleton-Century-Crofts.
Novak, G.; & Peláez, M. (2004). Child and Adolescent Development. Califórnia: Sage publications.
Ribes, E. (1996). Reflexiones sobre la naturaliza de uma teoria del desarrollo del comportamiento y su aplicación. Em: Bijou, S. W.; & Ribes, E. (cords). El desarrollo del comportamiento. México: Universidad de Guadalajara. pp. 267-282.
Ruiz, J. R.; & Baer, D. M. (1996). Un punto de vista analítico-conductual del desarrollo. Em: Bijou, S. W.; & Ribes, E. (cords). El desarrollo del comportamiento. México: Universidad de Guadalajara. pp. 203-241.
Schlinger, H. D. Jr. (1995). A behavior Analytic View of Child Development. New York: Plenum Press.
Vasconcelos, L. A.; Naves, A, R. C. X.; & Ávila, R. R. (2010). Abordagem Analítico-comportamental do Desenvolvimento. Em: E. Z. Tourinho; S. V. de Luna. Análise do comportamento: Investigações Históricas, Conceituais e Aplicadas. São Paulo: Roca.
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