sábado, 11 de agosto de 2012

O que é DESENVOLVIMENTO para a Análise do Comportamento (AC)?


A teoria analítico-comportamental do desenvolvimento é enquadrada no campo da ciência natural (Bijou, 1993/1995). Bijou e Baer (1961) definem teoria como um grupo coerente de proposições gerais (i.e., definição de termos e princípios de relação entre termos) usadas como formulações explicativas para uma classe de fenômenos. Já a ciência natural é entendida como aquela que estuda qualquer fenômeno natural, derivando seu conhecimento de eventos observáveis ao olho nu ou observáveis por meio de instrumentos. A proposta da AC para a compreensão do desenvolvimento se enquadra nos padrões das ciências naturais porque as afirmações teóricas são proposições generalizadas sobre interações observáveis entre organismo e ambiente (Bijou, 1993/1995; Schlinger, 1995; Novak, & Peláez, 2004).
Em consonância com as ciências naturais, Bijou e Baer (1961) definiram o desenvolvimento como mudanças progressivas na interação entre um organismo e seu ambiente. Se destrincharmos os elementos presentes nessa definição, tem-se o destaque para dois aspectos:
a.       Mudanças progressivas. Segundo Ruiz e Baer (1996), o aspecto progressivo teria dois sentidos. O primeiro deles se refere à descrição sucessiva das diferenças qualitativas nas interações organismo-ambiente, de forma que o único papel da palavra “progressivo” seja permitir o reconhecimento de que cada mudança no comportamento se leva a cabo com base nas interações organismo-ambiente que a precedem. No segundo sentido, destaca-se que não apenas as interações que precederam de modo imediato qualquer mudanças no comportamento são importantes, mas também se considera quaisquer outras variáveis históricas que possam ser relevantes. Essa definição de desenvolvimento permite, portanto, contemplar as mudanças comportamentais como baseadas no que já ocorreu e no que ocorre no momento da interação específica (Novak & Peláez, 2004). Destaca-se também que o caráter progressivo não resulta em uma noção de melhoria, progresso ou direção única do desenvolvimento (Vasconcelos, Naves, & Ávila, 2010).
b.      Mudanças na interação entre o organismo e seu ambiente. Essas interações são consideradas interdependentes e contínuas. Aquilo que o organismo faz altera aspectos do ambiente e este, por sua vez, retroage sobre as ações do organismo (Vasconcelos, Naves, & Ávila, 2010). Portanto, o desenvolvimento implica bidirecionalidade de controle entre organismo e ambiente.
De forma semelhante, Ribes (1996) sugere que o estudo do desenvolvimento consiste na reconstrução teórica do comportamento ao longo do tempo, permitindo a observação de uma tendência geral na mudança e organização comportamental em cada momento. Na medida em que marca a história de interações do indivíduo, o estudo do desenvolvimento permite elucidar fatores disposicionais. Ou seja, trata-se de esclarecer a facilidade ou interferência criada pela história em novas formas de organização do comportamento e na aquisição de determinadas competências. Nesse sentido e em consonância com a definição de Bijou e Baer (1961), Ribes (1996) concebe o desenvolvimento como a interação histórica das capacidades comportamentais no transcurso do tempo: as competências comportamentais adquiridas progressivamente se convertem na condição necessária para o desenvolvimento de novas competências comportamentais. 
Em suma, o aspecto crítico no estudo do desenvolvimento é o caráter progressivo das mudanças nas interações, de forma que a história pregressa interfira probabilisticamente em aspectos qualitativos e quantitativos das interações presentes e as interações presentes interfiram nas futuras. Por se referir a fatores apenas disposicionais, a análise diacrônica não retira a necessidade de uma análise sincrônica, cujo papel é determinar aquelas condições e processos presentes no momento em que a interação acontece.


Referências:
Bijou, S. W. (1995). Behavior Analysis of Child Development. Reno: Context Press. Segunda revisão. Versão original em 1993.
Bijou, S. W.; & Baer, D. M. (1961). Child development, 1: A systematic and empirical theory. The Century psychology series. New York: Appleton-Century-Crofts. 
Novak, G.; & Peláez, M. (2004). Child and Adolescent Development. Califórnia: Sage publications.
Ribes, E. (1996). Reflexiones sobre la naturaliza de uma teoria del desarrollo del comportamiento y su aplicación. Em: Bijou, S. W.; & Ribes, E. (cords). El desarrollo del comportamiento. México: Universidad de Guadalajara. pp. 267-282.
Ruiz, J. R.; & Baer, D. M. (1996). Un punto de vista analítico-conductual del desarrollo. Em: Bijou, S. W.; & Ribes, E. (cords). El desarrollo del comportamiento. México: Universidad de Guadalajara. pp. 203-241.
Schlinger, H. D. Jr. (1995). A behavior Analytic View of Child Development. New York: Plenum Press.
Vasconcelos, L. A.; Naves, A, R. C. X.; & Ávila, R. R. (2010). Abordagem Analítico-comportamental do Desenvolvimento. Em: E. Z. Tourinho; S. V. de Luna. Análise do comportamento: Investigações Históricas, Conceituais e Aplicadas. São Paulo: Roca.



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