segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Experiências maternas podem ser "transferidas" aos fetos durante a gestação?

Os eventos vividos pelas gestantes podem produzir algum tipo de aprendizagem nos fetos? Essas aprendizagens se mantêm após o nascimento? Estudos como o de Gruest, Richer e Hars (2004) podem dar indicações sobre as respostas dessas perguntas.
Eles realizaram uma pesquisa com ratas prenhas no 18º e no 19º dia de gestação. O procedimento envolvia que as ratas ingerissem essência de alho e, algum tempo depois, injetava-se uma solução de cloreto de lítio nelas. O cloreto de lítio causa náusea nos animais, fazendo com que uma associação entre os alimentos anteriormente ingeridos e o mal-estar seja estabelecida. Com isso, os animais aprendem a evitar a essência de alho. Tecnicamente, fala-se que a essência de alho tornou-se um estímulo aversivo pelo pareamento com a náusea produzida pelo cloreto de lítio. As ratas que passaram por esse procedimento pariram filhotes que, quando tiveram seu primeiro contato com a essência de alho, também o evitaram. Essa evitação foi observada até seis semanas após o nascimento dos ratinhos.

O estudo levanta a dúvida de se algumas experiências pelas quais a mãe passa durante a gestação podem ou não ser “transferidas” para o feto, uma vez que foi a própria mãe quem ingeriu a solução de alho. Isso faria com que, ao nascerem, os fetos já estivessem preparados para evitar alguns alimentos que fizeram mal à mãe durante a gestação. Como controle adicional, seria interessante que os ratinhos recém-nascidos fossem cuidados e amamentados por uma rata estranha. Isso eliminaria a hipótese de que o contato com a mãe biológica, que também desenvolveu a aversão, pudesse de alguma forma promover a aprendizagem de aversão nos filhotes no período pós-natal.
Vale ainda dizer que outras espécies precisam ser testadas além de ratos para verificar a possível generalidade do fenômeno a qualquer animal. Há um grande campo de pesquisa pela frente... :)

Para saber mais: Gruest, N, Richer, P., & Hars, B. (2004). Emergence of long-term memory for conditioned aversion in the rat fetus. Developmental Psychobiology, 44, 189-198.

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